Trump politiza incêndios na Califórnia com desinformação e ataques a governador
13/01/2025
A uma semana de assumir a Casa Branca, presidente eleito responsabiliza Gavin Newsom e incita temores de dificultar ajuda federal a estados oponentes. Trump pede à Suprema Corte que suspenda sua sentença por fraude fiscal
Os incêndios ainda assolam áreas da Califórnia, reduzem bairros inteiros a cinzas e deslocam mais de 150 mil pessoas, mas Donald Trump prefere o papel de lançador de lenha à fogueira, politizando nocivamente o desastre mais custoso da história do estado.
O principal alvo é o governador da Califórnia, Gavin Newsom, a quem ele põe a culpa pelo fogo, amplificando mentiras e desinformação sobre a origem e o combate.
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A uma semana de assumir o cargo, o presidente eleito dos Estados Unidos indica que nada mudou na sua relação com governadores e prefeitos de estados democratas, considerados inimigos.
Apontado como potencial candidato do partido para a eleição presidencial de 2028, Newsom encabeça a lista e revida: há anos, vem confrontando o ex-futuro-presidente no debate sobre as questões ambientais.
Donald Trump
REUTERS/Brian Snyder
Trump não esperou a habitual trégua política em tempos de tragédia. Pela sua rede social, pediu a renúncia do governador, a quem se refere pelo trocadilho Newscum (nova escória em português):
“Uma das melhores e mais belas partes dos Estados Unidos da América está queimando até o chão. São cinzas, e Gavin Newscum deveria renunciar. Isso é tudo culpa dele!!!”
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Newsom e a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, foram repetidamente chamados de incompetentes pelo ex-presidente, que espalhou teorias próprias para o incêndio. Numa delas, acusou o governador de priorizar políticas ambientais em detrimento da segurança pública, ao usar a água do sul da Califórnia para salvar uma espécie de peixe ameaçada de extinção, o peixe-delta.
Em outro ataque, afirmou que Newsom recusou-se a assinar uma declaração de restauração de água, que teria permitido que “milhões de galões de água fluíssem diretamente para muitas partes da Califórnia.”
“Agora o preço final está sendo pago. Exigirei que esse governador incompetente permita que água linda, limpa e fresca flua para a Califórnia! Ele é o culpado por isso. Além de tudo isso, não há água para hidrantes, nem para aviões de combate a incêndio.”
Trump atacando Joe Biden e o governador da Califórnia, Gavin Newsom, em posts na rede social Truth Social
Truth Social / Reprodução
O governador rejeitou as críticas e qualificou-as como fantasiosas. Convidou Trump para visitar o estado e conversar com os moradores afetados pela tragédia, mas não recebeu resposta. O presidente eleito optou pelo alto-falante das redes sociais.
“Estou muito familiarizado com os insultos. Cada autoridade eleita com quem ele discorda está muito familiarizado com eles”, alegou Newsom.
Restam muitas perguntas a serem respondidas sobre a preparação de Los Angeles para os incêndios e as falhas que ocorreram e resultaram na catástrofe. Houve registros de hidrantes secos na área de Pacific Palisades, possivelmente relacionados ao fechamento, para obras, de um reservatório menor da região. Newsom ordenou uma investigação independente. Sobre os aviões, inicialmente eles foram impedidos de voar pelos fortes ventos.
Incêndio em Los Angeles
Reuters e AFP
A metralhadora de Trump mirou também o presidente Joe Biden, assegurando que ele deixou a Agência Federal de Gestão de Emergências (Fema) sem recursos para manejar o combate.
Verificadores de fatos classificaram como falsa a acusação. Biden assinou um projeto de lei em dezembro que reabastecer o Fundo de Assistência a Desastres da agência, que recebeu US$ 27 bilhões, segundo informou a Fema à rede de TV CNN.
Diante da tragédia, o presidente eleito mais uma vez priorizou as diferenças partidárias para atacar a gestão de oponentes. Governadores democratas, especialmente Newsom, expressam, com razão, temores sobre a ajuda federal que virá, a partir do dia 20, do novo ocupante da Casa Branca.