Após 'tiro no pé', presidente da Coreia do Sul que decretou lei marcial pode enfrentar impeachment
04/12/2024
Deputados da oposição exigem a renúncia de Yoon Suk Yeol, cujo governo já vivia uma grave crise política, com popularidade em baixa e suspeitas de corrupção envolvendo a primeira-dama. Presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, durante pronunciamento em novembro de 2024.
Kim Hong-Ji/ Pool via AP
Depois de ter decretado lei marcial na terça-feira (3) e recuar horas depois, o presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, pode enfrentar uma forte reação da oposição, incluindo a ameaça de um impeachment.
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O principal partido de oposição, o Partido Democrático, pediu que Yoon, que está no cargo desde 2022, renunciasse ou fosse afastado do cargo.
"Mesmo que a lei marcial seja suspensa, ele não pode evitar as acusações de traição. Foi claramente revelado para toda a nação que o presidente Yoon não poderia mais administrar o país normalmente. Ele deve renunciar", disse Park Chan-dae, membro sênior do partido na Assembleia Nacional, em um comunicado.
Yoon declarou a lei marcial para impedir a ação de "forças antiestatais" que estariam atuando em suposto conluio com a oposição. Mas os parlamentares rejeitaram o decreto, na maior crise política da Coreia do Sul em décadas.
A lei marcial restringe o acesso a direitos civis e substitui a legislação normal por leis militares, como limitações e controle da imprensa, da Assembleia Nacional e das forças policiais. Todas as atividades políticas, incluindo manifestações, ficam proibidas.
O decreto que instituía a lei marcial, que Yoon disse ter como alvo seus adversários políticos, foi rejeitada por 190 membros da Assembleia Nacional. De acordo com a legislação sul-coreana, o presidente precisa suspender imediatamente a lei marcial se o Parlamento exigir isso por maioria de votos. O próprio partido de Yoon pediu que ele revogasse o decreto.
Ao saberem do recuo do presidente, manifestantes reunidos do lado de fora do Parlamento gritaram e bateram palmas. "Nós vencemos!", entoavam.
"A Coreia do Sul, como nação, se esquivou de um tiro, mas o presidente Yoon pode ter dado um tiro no próprio pé", disse Danny Russel, vice-presidente do think tank Asia Society Policy Institute, nos Estados Unidos, à agência de notícias Reuters.
Escândalos e baixa popularidade
Presidente da Coreia do Sul decreta lei marcial; entenda o termo
Yoon foi eleito presidente em maio de 2022, por uma margem inferior a 1%, como candidato da direita pelo Partido do Poder Popular. Novato na política, ele ganhou a atenção pública como promotor após investigar alguns dos escândalos de corrupção mais notórios do país.
O político sul-coreano assumiu o poder com o desafio de reduzir o custo de vida e os preços elevados das moradias, além de combater o aumento da desigualdade e do desemprego entre os jovens.
Seu governo, no entanto, se viu envolvido em acusações de corrupção. A primeira-dama, por exemplo, foi gravada recebendo como presente uma bolsa de luxo avaliada em quase R$ 11 mil. O valor ultrapassa o que é permitido pela lei.
Pesquisas indicam que o trabalho de Yoon vem sendo reprovado pela população sul-coreana. As taxas de aprovação do governo estão em torno de 20%, o que tem gerado uma pressão política sobre o presidente.
Crise política
Deputados de oposição da Coreia do Sul votam para derrubar a lei marcial decretada pelo presidente
Yonhap via REUTERS
Em abril deste ano, o Partido Democrata — de oposição a Yoon — venceu com ampla vantagem as eleições parlamentares. Com isso, a legenda ampliou o controle da Assembleia Nacional, conquistando mais de 170 das 300 cadeiras da Casa.
À época, Yoon fez um pronunciamento prometendo mudanças no governo e políticas para estabilizar a economia na Coreia do Sul.
Enquanto isso, a oposição aprovou moções para investigar a primeira-dama. Todos os projetos acabaram sendo vetados pelo presidente.
Na semana passada, o Partido Democrata rejeitou o orçamento do governo e avançou com um plano de revisão de gastos, cortando o equivalente a mais de R$ 17 bilhões. A medida irritou o gabinete presidencial, sendo que a porta-voz do governo chamou a ação de "tirania parlamentar".
Ao anunciar a lei marcial nesta terça-feira, Yoon descreveu a oposição como "forças pró-Coreia do Norte, sem vergonha, que estão saqueando a liberdade e a felicidade" dos sul-coreanos.
Presidente da Coreia do Sul declara lei marcial e horas depois cancela decreto