Base dos EUA em Cuba e símbolo do 11/9: como surgiu Guantánamo e por que Trump quer enviar imigrantes presos para lá
30/01/2025
Área do território cubano controlada pelos EUA abriga base militar e prisão montada durante a chamada 'guerra ao terror'. Trump prometeu mandar 30 mil detentos para a região. Imigrante ilegal é preso por agentes do governo Trump em Nova York
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (29) que pretende enviar 30 mil imigrantes presos para Guantánamo, em Cuba. O local é um dos símbolos da "guerra ao terror" travada pelos americanos há mais de 20 anos.
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A área está sob controle dos Estados Unidos há mais de 100 anos e conta com uma base militar norte-americana, além de uma prisão e de um centro de operação para imigrantes.
O governo dos Estados Unidos decidiu abrir uma prisão na região após os ataques de 11 de setembro de 2001. Com isso, a base passou a receber investigados por terrorismo considerados de alta periculosidade. Ao longo do tempo, a unidade foi alvo de denúncias de tortura e abusos.
Atualmente, apenas 15 pessoas permanecem presas em Guantánamo. A prisão é alvo de um debate político intenso nos Estados Unidos há mais de 10 anos. Enquanto os democratas defendem seu fechamento, os republicanos acreditam que ela deve permanecer aberta.
Segundo a Casa Branca, os imigrantes presos seriam levados para um centro de detenção para estrangeiros. A área fica em uma parte da base separada da prisão de Guantánamo.
Desde que assumiu a presidência, em 20 de janeiro, Trump adotou uma série de medidas para combater a imigração ilegal. Em pouco mais de uma semana, programas voltados para imigrantes foram suspensos, e dezenas de pessoas que vivem no país sem autorização foram detidas.
Agora, o governo Trump fala em enviar para Guantánamo os imigrantes ilegais presos considerados criminosos perigosos. O "czar" da fronteira, Tom Homan, disse que a prisão receberá "os piores dos piores".
Nesta reportagem você vai ver:
Por que os EUA controlam uma área em Cuba?
Qual a relação de Guantánamo com o 11 de setembro?
Quais são os planos de Trump?
Estados Unidos controlam a Baía de Guantánamo, em Cuba
Kayan Albertin/g1
1. EUA 'dentro' de Cuba
A Baía de Guantánamo fica no sul da ilha de Cuba. Desde o início do século 20, a região abriga uma base naval dos Estados Unidos.
A área foi entregue aos norte-americanos após um conflito entre Espanha e Estados Unidos, motivado pela intervenção americana no levante que resultou na independência de Cuba. A guerra ficou conhecida como "Hispano-Americana".
Depois de expulsar as tropas espanholas, os Estados Unidos fecharam um acordo com Cuba para arrendar a Baía de Guantánamo para a instalação de uma base militar. A área foi oficialmente entregue em 1903, e o país se comprometeu a pagar US$ 2.000 por ano em moedas de ouro.
Na década de 1930, os dois países assinaram um tratado determinando que o arrendamento não poderia ser alterado sem um novo acordo.
A partir de 1960, o governo comunista comandado por Fidel Castro passou a recusar o pagamento e exigiu a devolução da Baía de Guantánamo. Os Estados Unidos, no entanto, não demonstraram interesse em devolver o território.
Atualmente, a base militar ocupa uma área de aproximadamente 117 km² e é autossuficiente na produção de energia elétrica e água. Navios enviados dos Estados Unidos abastecem regularmente a base com outros insumos, como alimentos.
2. Guantánamo e o 11 de Setembro
Por trás da Ponte do Brooklyn, a explosão do segundo avião a atingir o World Trade Center é vista de longe em Nova York durante o ataque terrorista em 11 de setembro de 2001
Sara K. Schwittek/Reuters/Arquivo
No dia 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos foram alvo de um atentado terrorista sem precedentes. Aviões foram sequestrados e lançados contra as torres do World Trade Center, em Nova York, e contra o Pentágono, em Washington. Mais de 3 mil pessoas morreram.
O atentado levou o governo dos Estados Unidos, à época comandado pelo presidente George W. Bush, a declarar uma "guerra ao terror".
Os Estados Unidos iniciaram uma caçada para responsabilizar todos os mentores do ataque, além de seus apoiadores. O país lançou uma operação para destruir o grupo terrorista Al-Qaeda e iniciou ocupações no Iraque e no Afeganistão.
Em janeiro de 2002, alguns meses após o atentado, os Estados Unidos abriram a prisão de Guantánamo. O objetivo era enviar para lá presos que eram seguidores do Talibã, no Afeganistão, ou da Al-Qaeda.
Entre os detidos enviados para Guantánamo está Khalid Sheikh Mohammed, considerado o suposto mentor dos ataques de 11 de setembro.
Ao longo de mais de 20 anos, cerca de 780 pessoas foram enviadas para a prisão de Guantánamo. Durante esse período, ativistas denunciaram uma série de abusos e violações de direitos humanos e da legislação internacional.
Os detentos também acusaram os militares de praticarem tortura. Em 2006, três prisioneiros foram encontrados enforcados em suas celas. À época, os Estados Unidos afirmaram que o episódio foi um "suicídio coordenado". Mais tarde, no entanto, surgiram indícios de que os detentos foram mortos por agentes americanos.
As fotos inéditas de primeiros presos em Guantánamo reveladas pelos EUA
A prisão de Guantánamo, na ilha de Cuba
AP
Quando Barack Obama assumiu o governo no lugar de Bush, os Estados Unidos começaram a discutir o fechamento da prisão de Guantánamo. A avaliação do governo era de que a unidade representava uma vergonha para o país e fornecia argumentos para a propaganda de grupos terroristas.
Obama chegou a ordenar o fechamento da prisão, mas enfrentou resistência no Congresso. Com isso, os Estados Unidos passaram a negociar a transferência de presos para outros países. Em 2017, quando Trump assumiu o governo pela primeira vez, 41 pessoas permaneciam detidas no local.
Em janeiro deste ano, o então presidente Joe Biden determinou novas transferências. Agora, apenas 15 pessoas permanecem presas em Guantánamo — incluindo Khalid Sheikh Mohammed.
3. Os planos de Trump
A retórica de Trump faz dele o primeiro presidente dos EUA em mais de cem anos a defender a expansão territorial do país.
Leah Millis/Reuters
De acordo com Trump, Guantánamo irá receber os "piores estrangeiros criminosos". O presidente disse ter tomado a decisão por uma questão de segurança nacional. Pelo menos 30 mil imigrantes detidos devem ser enviados para o local.
"Alguns deles são tão ruins que não confiamos nos países para mantê-los. Não queremos que eles voltem, então vamos mandá-los para Guantánamo”, disse.
Trump também afirmou que ordenará às autoridades federais que preparem uma estrutura em Guantánamo para receber imigrantes criminosos. Segundo a Casa Branca, um memorando sobre o tema já foi assinado.
Atualmente, o centro voltado para estrangeiros em Guantánamo ocupa uma pequena parte da base e não tem capacidade para 30 mil pessoas. O governo dos Estados Unidos justificou que o espaço será ampliado.
Após as declarações de Trump, a secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, disse que o governo buscará recursos no Congresso para ampliar as instalações de detenção. Já o "czar" da fronteira, Tom Homan, afirmou que a Agência de Imigração e Alfândega será responsável pela administração da instalação em Cuba.
A Casa Branca ainda não divulgou um prazo para que os imigrantes presos comecem a ser enviados para Guantánamo.
O uso da base militar para esse fim representaria um aumento significativo na capacidade dos Estados Unidos de deter pessoas que estão no país de forma irregular.
Atualmente, a Agência de Imigração e Alfândega tem um orçamento que permite a prisão de aproximadamente 41 mil pessoas, que são levadas para centros de processamento, instalações privadas e prisões locais.
Durante seu primeiro mandato, entre 2017 e 2021, Trump autorizou o uso de outras bases militares para deter crianças imigrantes. O ex-presidente Barack Obama adotou uma medida semelhante em 2014, como solução temporária para ampliar os centros de detenção familiar.
O presidente cubano Miguel Diaz-Canel chamou o plano de Trump de "um ato de brutalidade".
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