Falta de controladores de voo perdura há décadas nos EUA, e espaço aéreo de Washington é um dos mais críticos do país

  • 30/01/2025
(Foto: Reprodução)
Relatório inicial de acidente entre avião da American Airlines e helicóptero militar na capital americana indica que condição da equipe da torre de controle 'não era normal'. Autoridades ainda investigam o acidente. Primeiro avião decolando do Aeroporto Nacional Reagan, em Washington, depois de acidente com o voo 5342 REUTERS/Eduardo Munoz A colisão entre um jato da American Airlines e um helicóptero militar Black Hawk durante a aproximação em Washington, na noite de quarta-feira (29), joga luz em um problema que perdura há décadas no sistema aéreo dos EUA: a falta de controladores de voo. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp A questão, crítica desde o governo de Ronald Reagan (1981-1989), se agravou com a retomada do tráfego aéreo após a pandemia e é especialmente preocupante sob a capital americana, que lida com um grande movimento de aeronaves civis e militares simultaneamente. Nesta quinta-feira, um relatório da Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos revelado pelo jornal "The New York Times" indicou que a equipe da torre de controle do Aeroporto Ronald Reagan "não estava normal" no momento do acidente. Helicópteros militares e aviões de passageiros são uma visão comum ao longo do Rio Potomac, na região de Washington, onde a colisão aconteceu. A região abriga inúmeras bases militares e três grandes aeroportos. Diversas "quase colisões" no Aeroporto Nacional Reagan geraram alarme recentemente, incluindo uma em maio de 2024 entre um jato da American Airlines e uma aeronave de pequeno porte, e outra em abril de 2024 entre aviões da Southwest e JetBlue. Os quase acidentes coincidem com uma escassez de controladores de tráfego aéreo, que provoca atrasos de voos e causa preocupação nos Estados Unidos. A FAA (administração federal de aviação, a agência que cuida do transporte aéreo nos EUA) abriu em outubro de 2024 uma auditoria sobre riscos de incursão indevida na pista nos 45 aeroportos mais movimentados dos EUA após uma série de quase colisões. Avião bate em helicóptero em Washington e acidente deixa 67 mortos O aeroporto Reagan, que era destino do voo da American Airlines, tem um movimento particularmente alto. Entre 2016 e 2019, houve 88 mil pousos ou decolagens de helicópteros num raio de 30 milhas (48 km) da sua pista principal, incluindo cerca de 33 mil voos militares e 18 mil voos de forças de segurança, segundo um relatório de 2021. Em 2024, dez novos pousos e decolagens foram autorizados pela FAA no aeroporto Reagan, que registra cerca de duas movimentações de aeronaves por minuto em sua pista principal. A colisão no ar na noite de quarta-feira ocorreu quando o jato de passageiros que partiu de Wichita, no Kansas, estava se aproximando para pousar em Reagan. As comunicações de rádio entre a torre de controle de tráfego aéreo e o Black Hawk mostraram que a tripulação do helicóptero sabia que o avião estava nas proximidades. Equipes de emergência trabalham perto do local do acidente, com o Capitólio dos EUA ao fundo. O voo 5342 da American Eagle colidiu com um helicóptero Black Hawk enquanto se aproximava do Aeroporto Nacional Ronald Reagan de Washington e caiu no Rio Potomac, em 30 de janeiro de 2025. Reuters/Nathan Howard Quase colisões Relatos de incidentes em que duas aeronaves quase colidem, tanto em pista quanto em voo, têm sido assustadoramente comuns nos EUA. Em fevereiro de 2023, por exemplo, um avião cargueiro da FedEx e uma aeronave da Southwest com 128 pessoas a bordo quase colidiram no ar em Austin, Texas, chegando a ficar a 52 metros de distância. O Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB, em inglês) concluiu que o incidente foi provocado por suposições incorretas por parte de um controlador de tráfego aéreo. Já em julho de 2024, dois aviões comerciais ficaram a cerca de 200 metros de distância em Syracuse, no estado de Nova York. Segundo as investigações, o controlador de tráfego aéreo permitiu que uma aeronave se aproximasse da pista enquanto a outra estava decolando. De acordo com especialistas, a sobrecarga nas operações de controle e a falta de pessoal estão entre os fatores que quase provocaram tragédias. Em 2023, uma reportagem do "New York Times" analisou um banco de dados mantido pela Nasa com relatos confidenciais feitos por profissionais da aviação. As entradas são feitas voluntariamente e não eram verificadas independentemente. Ainda assim, havia cerca de 300 menções a quase colisões nos EUA num período de 12 meses. O número, segundo o jornal, é mais que o dobro do registrado uma década antes, embora não seja possível afirmar se as condições de segurança se deterioraram ou se houve simplesmente um aumento no número de denúncias. Equipes recuperam destroços de aeronave no rio Potomac, em Washington, após a colisão do voo 5342 da American Airlines com um helicóptero militar Carlos Barria/Reuters Controladores aéreos De acordo com o "Times", a falta de controladores aéreos é um problema que data dos anos 1980, quando a administração Reagan promoveu uma demissão em massa de profissionais em greve. Desde então, a FAA não tem conseguido reverter a escassez de mão de obra. Com a pandemia e a paralisação dos voos, muitos controladores deixaram a profissão, e o ritmo de treinamento de novos funcionários caiu devido às restrições de reuniões de pessoas, por motivos de saúde. Em 10 anos, o número de profissionais treinados caiu 10%, enquanto o tráfego aéreo cresceu 5%. O problema já era conhecido durante a Presidência de Joe Biden. Para suprir a demanda, a maioria dos controladores chega a trabalhar seis dias por semana, com cargas horárias elevadas, irregulares e com pouco tempo de interjornada. Profissionais da categoria, segundo o jornal, sofrem com problemas médico e psicológicos, mas evitam procurar atendimento profissional pelo medo de serem barrados nos exames periódicos. Em setembro de 2024, a FAA anunciou que havia cumprido sua meta de contratar 1.800 novos controladores, os quais ainda passariam por treinamento. Segundo especialistas do setor, ainda há um deficit de 3.000 profissionais do tipo no país. Outra questão apontada pelas agências de controle aéreo nos EUA é a falta de equipamentos de última geração. Em 2017, frente ao aumento dos relatos de quase colisões, o NTSB orientou a FAA a instalar mais sistemas de detecção de colisão iminente entre aeronaves em solo. Daquele ano até 2023, no entanto, nenhum desses sistemas foi instalado em qualquer aeroporto americano — presente em apenas 43 dos mais de 500 terminais aéreos do país. A FAA culpou a falta de orçamento pela falta de ação. (Com informações da agência Reuters.)

FONTE: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/01/30/falta-de-controladores-de-voo-perdura-ha-decadas-nos-eua-e-espaco-aereo-de-washington-e-um-dos-mais-criticos-do-pais.ghtml


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