Inflação, juros, Trump, reforma ministerial e popularidade: os principais pontos da fala de Lula
30/01/2025
Presidente falou por 1h20 nesta quinta, já como parte de nova estratégia de comunicação. Lula minimizou crise de popularidade, confirmou que estuda trocar ministros e disse que vai agir contra a inflação. Lula durante entrevista no Planalto
Ricardo Stuckert / Presidência da República
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conversou com jornalistas por cerca de 1h20 na manhã desta quinta-feira (30) no Palácio do Planalto, em Brasília.
Em pé, fazendo piadas e respondendo a perguntas fora do protocolo, Lula falou sobre a crise na popularidade do governo, a inflação acima do esperado nos alimentos e nos combustíveis, os rumores de reforma ministerial e a relação com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O formato mais "solto" para a entrevista é mais uma das mudanças na comunicação do Planalto desde a troca do ministro da Secretaria de Comunicação Social – saiu o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), e chegou o publicitário Sidônio Palmeira.
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Ao longo do bate-papo, Lula disse que pretende fazer entrevistas "mais frequentes". O último café com jornalistas tinha sido em abril de 2024, há nove meses.
Veja abaixo o que Lula falou sobre:
seu estado de saúde, após acidente doméstico;
a inflação dos alimentos e dos combustíveis;
a decisão do BC de continuar subindo os juros;
os rumores de uma reforma ministerial;
e a possibilidade de incluir o atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, na reforma;
a queda de popularidade do governo;
as críticas de Gilberto Kassab ao governo e ao ministro Fernando Haddad;
o compromisso com a responsabilidade fiscal;
a promessa de elevar a isenção no Imposto de Renda para R$ 5 mil;
a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris;
a ameaça de Trump de sobretaxar produtos brasileiros;
a (falta de) relação bilateral com Trump;
a defesa da democracia no Brasil e no mundo.
'Estou aqui 100% recuperado. 100% preparado para todas as lutas', diz Lula após cirurgias
Estado de saúde
Lula disse que se sente "100% recuperado" e "100% pronto para todas as lutas" do próximo ano. Ele bateu a cabeça em uma queda no Palácio da Alvorada em outubro e, dois meses depois, teve de passar por cirurgia após um novo sangramento.
"Hoje, estou aqui 100% recuperado. 100% preparado para todas as lutas que vierem a partir de agora. Já voltei a fazer ginástica, a andar, a fazer musculação. Já posso fazer a viagem que eu quiser para o país que eu quiser, a quantidade de quilômetros que eu quiser", disse Lula.
Inflação dos alimentos e do diesel
Lula negou que tenha "autorizado" um reajuste do óleo diesel. Segundo ele, a decisão cabe à Petrobras.
"Eu não autorizei o aumento do diesel. Porque desde o meu primeiro mandato, eu aprendi que quem autoriza o aumento do petróleo e dos derivados de petróleo é a Petrobras, e não o presidente da República", disse.
"Se ela [Petrobras] for fazer, ainda assim vai garantir que o preço do diesel fique abaixo do que era em dezembro de 2022. Mas ainda não fui avisado, e ela não precisa me avisar. Se ela tiver uma decisão de que, para a Petrobras, é importante fazer o reajuste, ela que faça e comunique a imprensa", continuou Lula.
Lula afirma que não fará 'bravata' e nem adotará medidas extremas para baratear alimentos
Questionado sobre alimentos, afirmou que não fará "bravata" e nem adotará medidas extremas no tema – para evitar o surgimento de consequências como o mercado paralelo dos produtos.
"Eu não tomarei nenhuma medida daquelas que sejam 'bravata'. Eu não farei cota [de compras], não colocarei helicóptero para viajar fazenda e prender boi, como foi feito no Plano Cruzado. Não vou estabelecer nada que possa significar o surgimento de mercado paralelo", disse Lula.
BC, Galípolo e juros
Lula minimizou o fato de a primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) presidida por Gabriel Galípolo ter mantido o ritmo de alta dos juros da economia.
Nesta quarta (29), por decisão unânime, o Copom elevou a taxa Selic em um ponto percentual. Foi a quarta alta seguida, e a segunda nesse ritmo intenso. Com ela, a Selic chegou a 13,25%.
"O presidente do Banco Central não pode dar um cavalo de pau num mar revolto de uma hora para outra. Já estava praticamente demarcado a necessidade da subida de juros, pelo outro presidente [Roberto Campos Neto]. E o Galípolo fez aquilo que ele entendeu que deveria fazer", diz Lula.
"Nós temos consciência de que é preciso ter paciência, eu tenho 100% de confiança no trabalho do presidente do Banco Central. Tenho certeza de que ele vai criar condições para entregar ao povo brasileiro uma taxa de juros menor", continuou.
Galípolo não pode dar 'cavalo de pau', e alta dos juros já estava 'praticamente demarcada', diz Lula
Reforma ministerial no radar
Lula confirmou que estuda uma reforma ministerial, mas não quis adiantar quais nomes podem estar envolvidos. Os rumores incluem o nome da atual presidente do PT, Gleisi Hoffmann.
"Trocar ministro é uma coisa da alçada do presidente. No Brasil a gente tem hábito de que toma posse, e um ano depois a imprensa fala em reforma", afirmou Lula.
"Ela [Gleisi] tem condições de ser ministra em muitos cargos. Até agora não tem nada definido. Ela não conversou comigo, eu não conversei com ela", prosseguiu.
A reforma visa atrair apoio de partidos do Centrão, como o PSD, que buscam mais espaço na Esplanada dos Ministérios. A expectativa é que as mudanças sejam definidas até fevereiro.
'Ela tem condições de ser ministra em muitos cargos. Até agora não tem nada definido', diz Lula de Gleisi Hoffmann
Pacheco para governo de MG
Ainda no tema da reforma ministerial, Lula foi questionado sobre outro nome que circula nos bastidores: o do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que deixa o posto neste sábado (1º) e seria cotado para o Ministério da Justiça.
Em resposta, afirmou que quer ver o atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), como próximo governador de Minas Gerais.
"Eu não posso dizer quem é que vai ser [ministro], gente. Se pudesse eu falar, eu falaria. Mas eu quero que o Pacheco seja governador de Minas Gerais. É isso que eu quero", afirmou Lula.
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Queda de popularidade
Lula chegou a ironizar a queda de popularidade do governo e disse que não se preocupa com pesquisas sobre a avaliação do governo.
Pesquisa Quaest divulgada na última segunda-feira (27) mostrou que 49% dos entrevistados reprovam o trabalho de Lula, enquanto 47% aprovam. Pela primeira vez, a desaprovação superou a aprovação.
"No dia em que estiver preocupado com pesquisa, vou convocar uma coletiva para dizer para vocês", disse Lula.
'O dia em que me preocupar com pesquisa eu chamo uma coletiva e falo para vocês', diz Lula
Críticas de Kassab a Haddad
Lula rebateu as críticas do presidente do PSD, Gilberto Kassab, ao governo e ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Na quarta, Kassab chamou Haddad de um "ministro fraco", que não estava conseguindo comandar a economia do país em razão do "fogo amigo" no governo.
Lula afirmou que Kassab foi injusto, e que Haddad é um "ministro extraordinário".
"Eu comecei a rir quando ele [Kassab] disse se a eleição fosse hoje eu perderia. Eu percebi que a eleição é daqui a dois anos, fiquei despreocupado", afirmou Lula.
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Responsabilidade fiscal
Lula afirmou que o Brasil fechou 2024 com um déficit de cerca de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, dentro da meta – o número oficial ainda não foi divulgado.
O presidente voltou a repetir que tem "muita responsabilidade fiscal" – mas disse também que, se depender dele, não haverá novas medidas de ajuste.
"Não tem outra medida fiscal. Se se apresentar durante ano a necessidade de fazer, vamos reunir. Se depender de mim não tem outra medida fiscal", enfatizou o presidente.
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Isenção no IR até R$ 5 mil
Lula afirmou que o governo trabalha em um "ajuste" para concluir o texto e enviar ao Congresso Nacional o projeto que amplia a isenção de Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil mensais.
Segundo o presidente, a equipe de Haddad trabalha no trecho que define como essa renúncia fiscal será compensada nas contas públicas.
"Está preparando para a gente mandar para o Congresso Nacional. É apenas um ajuste, sabe, porque toda vez que a gente for tirar uma coisa, você tem que fazer a compensação. Está sendo feito um ajuste, ainda ontem eu conversei com o Haddad e logo, logo a gente vai dar entrada no projeto de desconto de R$ 5 mil no Imposto de Renda", disse o presidente.
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EUA fora do Acordo de Paris
Lula criticou a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de retirar novamente o país do Acordo de Paris – principal instrumento de metas para reduzir o aquecimento global.
O Brasil vai receber a Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 30) deste ano, em Belém (PA). Trump não deve comparecer.
"Temos que fazer uma luta muito grande nessa questão do clima. Se não fizer uma coisa forte, essas COPs vão ficar desmoralizadas", afirmou o petista.
"Trump anunciou saída do acordo de Paris. Os Estados Unidos já não tinha cumprido o Protocolo de Kyoto. É preciso discussão séria, se quisermos transição energética de verdade. Essa COP 30 vai ser um balizamento do que vamos querer daqui pra frente", completou Lula.
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Trump e ameaça de taxação
Ainda sobre o novo governo norte-americano, Lula foi duro ao comentar as ameaças de Trump de aumentar a taxação sobre produtos que o Brasil exporta para os EUA.
"Se ele taxar os produtos brasileiros, haverá reciprocidade no Brasil em taxar os produtos que são importados dos EUA", afirmou.
"Ele só tem que respeitar a soberania dos outros países. Ele foi eleito para governar EUA. Outros presidentes eleitos para governar com outros países", prosseguiu.
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Sem telefonema para Trump
Ainda no tema, Lula afirmou que não tem previsão de conversar diretamente com Donald Trump – que foi eleito em novembro de 2024 e tomou posse no último dia 20.
O governo brasileiro reconheceu a vitória em comunicados públicos, mas Lula não seguiu a praxe de telefonar para o político eleito. E indicou que não pretende fazê-lo.
"Não há nenhum interesse agora, acho que nem meu, nem dele. Essas conversas só acontecem quando você tem interesse, quando tem alguma coisa para tratar. Eu mandei uma carta para o governo americano dando os parabéns pela vitória, e é isso", disse Lula.
"Se a gente não tiver oportunidade de se encontrar, porque ele não participa dos Brics... Se eu for convidado para o G7, a gente tem chance de se encontrar. Se não, a gente vai se encontrar na ONU – se ele não desistir da ONU também", ironizou.
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Defesa da democracia
Como vem fazendo desde as eleições de 2022 – e de modo mais enfático após os atentados de 8 de janeiro de 2023 em Brasília –, Lula voltou a defender a democracia. E disse que o mundo corre o risco de ver regimes piores que o nazismo e o fascismo.
"Pra mim, a democracia é a coisa de maior relevância neste instante na humanidade, não é no Brasil. É a coisa mais importante. Ou a gente mantém a democracia funcionando, ou a gente vai ter Estados autoritários, mais do que Hitler e o fascismo", disse o presidente.
"E é por isso que a democracia é valor incomensurável na minha vida, daqui pra frente. Eu tenho dito aos trabalhadores: em vez de ficar fazendo pauta de reivindicação, façam quantas vocês quiserem, mas coloquem a democracia. Porque só com democracia é que vocês conquistam as coisas", emendou.
'Ou a gente mantém a democracia funcionando, ou a gente vai ter estados autoritários, mais do que Hitler e o fascismo', diz Lula