'Mayday (...) colisão com pássaro, arremetendo', declarou piloto 3 minutos antes de avião bater em muro e explodir na Coreia do Sul
30/12/2024
Piloto do Boeing 737-800, da Jeju Air, comunicou emergência ao controlador aéreo antes do impacto que deixou 179 mortos na noite deste sábado (28). Foi a primeira vez desde o acidente que há a confirmação de que a aeronave colidiu contra pássaros. Vídeo mostra fogo saindo de motor pouco antes de pouso de avião que explodiu
O piloto do Boeing 737-800 da Jeju Air declarou emergência e emitiu avisos de "mayday" e de colisão com pássaros aos controladores de voo da Coreia do Sul minutos antes do avião se chocar contra um muro de concreto e explodir, neste sábado (29).
Esta foi a primeira vez desde o acidente que há a confirmação de que a aeronave colidiu contra pássaros. O sinal de "Mayday" é um termo universalmente conhecido para comunicar situações de emergência. A palavra faz parte do Código Internacional de Sinais e do Código Fonético Internacional e tem origem no termo francês "venez m'aider", que significa "socorra-me" em português.
A tripulação do voo declarou emergência após receber um alerta da torre de comando sobre o risco de colisão com pássaros. O piloto reportou a colisão com pássaros dois minutos depois de receber o alerta, segundo informações do Ministério dos Transportes sul-coreano.
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A aeronave da Jeju Air levava 181 pessoas; 179 morreram e as outras duas saíram com vida. A aeronave partiu de Bangkok, na Tailândia, e sofreu o acidente por volta das 9h no horário local (21h de sábado, no Brasil) ao pousar em Muan, na Coreia do Sul.
No aviso à torre de comando do aeroporto, o piloto falou a palavra "mayday" três vezes, e "bird strike" (colisão com pássaros) duas vezes.
Veja como foram os momentos anteriores ao acidente na linha do tempo abaixo, começando às 8h54 de domingo no horário local (20h54 de sábado, no horário de Brasília):
8h54 - O controle de tráfego aéreo do aeroporto de Muan autoriza a aeronave a pousar na pista 01, orientada a 10 graus a leste do norte.
8h57 - O controle de tráfego aéreo emite um alerta de "cuidado - atividade de pássaros".
8h59 - O piloto do voo 7C2216 relata uma colisão com pássaros e declara emergência com o chamado "Mayday, Mayday, Mayday (...) colisão com pássaros, colisão com pássaros, arremetendo".
Momento em que fogo sai do motor de Boeing 737-800 da Jeju Air, em aparente explosão, pouco antes de pouso e explosão na Coreia do Sul em 28 de dezembro de 2024.
Reprodução
9h00 - O voo 7C2216 inicia a manobra de arremetida e solicita autorização para pousar na pista 19, localizada na extremidade oposta da única pista do aeroporto.
9h01 - O controle de tráfego aéreo autoriza o pouso na pista 19.
9h02 - O voo 7C2216 toca a pista aproximadamente no ponto de 1.200 metros de uma pista com 2.800 metros de extensão.
9h02m34s - O controle de tráfego aéreo ativa o "sinal de acidente" na unidade de resgate e combate a incêndios do aeroporto.
9h02m55s - A unidade de resgate e combate a incêndios do aeroporto conclui a implantação dos equipamentos de resgate.
9h03 - O voo 7C2216 colide com o barranco após ultrapassar o final da pista.
9h10 - O Ministério dos Transportes recebe o relatório do acidente das autoridades aeroportuárias.
9h23 - Um homem é resgatado e transportado para uma instalação médica temporária.
9h38 - O aeroporto de Muan é fechado.
9h50 - O resgate de uma segunda pessoa é concluído; ela foi encontrada dentro da seção da cauda do avião.
Avião explodiu na Coreia do Sul
Lee Geun-Young via Reuters
O avião aterrissou com o trem de pouso recolhido, mas ainda não está claro se isso tem relação com a possível colisão com pássaros. (Veja abaixo algumas questões ainda sem resposta sobre o acidente)
A Coreia do Sul iniciou nesta segunda uma "inspeção especial e completa" de todos os aviões Boeing 737-800 utilizados por companhias aéreas do país. São 101 aviões do modelo operados por linhas aéreas sul-coreanas.
Uma investigação sobre o acidente também foi aberta para apurar exatamente o que aconteceu. O Conselho Nacional de Segurança nos Transportes dos Estados Unidos (NTSB, na sigla em inglês) participará das investigações.
A caixa-preta do avião que explodiu foi recuperada e será transferida para o Centro de Testes e Análises do Aeroporto de Gimpo, onde será verificada a possibilidade de análise, segundo o ministério dos Transportes sul-coreano.
O novo presidente interino da Coreia do Sul, Choi Sang-mok, afirmou que a prioridade no momento é recuperar todos os corpos das vítimas e fazer suas identificações, para que possam ser devolvidos às famílias.
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Questões ainda sem resposta
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Uma aterrissagem "de barriga" (sem o trem de pouso acionado) e indícios de uma colisão com pássaros levantam questões ainda sem resposta sobre o que causou a explosão de um Boeing 737-800 da Jeju Air, na Coreia do Sul.
Uma das dúvidas, por ora, é: tanto o pouso com o trem recolhido quanto a colisão com pássaros são ocorrências comuns na aviação comercial mundial e, isoladamente, não costumam resultar em mortes.
Esses dois pontos suscitam outras questões: um avião cujo trem de pouso não abaixa normalmente joga combustível fora antes de tentar a aterrissagem —o que não ocorreu no voo da Jeju Air. Isso porque um avião com menos combustível fica menos propenso a explosões. E a colisão com pássaros não tem relação aparente com o não funcionamento do trem de pouso.
Outra incerteza está na velocidade em que o avião atingiu o solo. Vídeos mostram o Boeing 737-800 com dificuldade para frear e aparentemente sem o funcionamento dos flaps, superfícies aerodinâmicas usadas para aumentar a sustentação.
"Neste momento, há muito mais perguntas do que respostas. Por que o avião estava tão rápido? Por que os flaps não estavam abertos? Por que o trem de pouso não estava acionado?", disse à Reuters Gregory Alegi, especialista em aviação e ex-professor da academia da força aérea italiana.
Christian Beckert, especialista em segurança de voo e piloto da Lufthansa, disse que as imagens sugerem que, além dos reversores, a maioria dos sistemas de frenagem do avião não foi ativada, criando um "grande problema" e resultando em um pouso em velocidade alta.
Beckert afirmou que uma colisão com pássaros era improvável de ter danificado o trem de pouso enquanto ele ainda estava recolhido, e que, se tivesse ocorrido com o trem acionado, seria difícil o recolher novamente.
"É realmente muito raro e incomum não baixar o trem de pouso, porque há sistemas independentes que permitem baixá-lo com um sistema alternativo", disse ele.
Acidentes aéreos geralmente são causados por uma combinação de fatores e que pode levar meses para reconstruir a sequência de eventos dentro e fora da aeronave.
As autoridades sul-coreanas disseram que estão investigando a causa do acidente do voo 7C2216 da Jeju Air, incluindo a possibilidade de colisão com pássaros.
Um porta-voz da Jeju Air não preferiu não comentar. A empresa se recusou a especular sobre a causa do acidente durante entrevistas coletivas, afirmando que uma investigação está em andamento.
De acordo com regras globais de aviação, a Coreia do Sul vai liderar a investigação sobre o acidente e automaticamente envolverá o Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB) dos Estados Unidos, onde o avião foi projetado e fabricado.
O gravador de dados de voo, também conhecido como "caixa preta", foi encontrado cerca de duas horas e meia após o acidente, e o de voz da cabine foi localizado quase três horas depois, segundo o Ministério dos Transportes da Coreia do Sul.
"Esses gravadores fornecem todos os parâmetros dos sistemas do avião. O 'batimento cardíaco' da aeronave está no gravador de dados de voo", disse Geoffrey Thomas, editor da Airline News. "O gravador de voz provavelmente fornecerá a análise mais detalhada sobre o que aconteceu nesse trágico acidente."
O que se sabe sobre acidente de avião na Coreia do Sul
Editoria de Arte/g1
Sequência de eventos
Vídeo mostra fogo saindo de motor pouco antes de pouso de avião que explodiu
Em poucos minutos, o controle de tráfego aéreo emitiu um alerta de colisão com pássaros, a tripulação declarou emergência e tentou pousar, disseram as autoridades, embora ainda não esteja claro se a aeronave realmente colidiu com aves.
Especialistas consideram improvável que uma colisão com pássaros tenha causado o mau funcionamento do trem de pouso.
"Uma colisão com pássaros não é incomum, problemas com o trem de pouso também não. Colisões com pássaros ocorrem com frequência, mas normalmente não causam a perda de uma aeronave sozinhas", afirmou à Reuters.
Uma colisão com pássaros poderia ter afetado os motores se um bando fosse sugado por eles, mas isso não desligaria os motores imediatamente, dando algum tempo para os pilotos reagirem, disse Geoffrey Dell, especialista australiano em segurança aérea.
O especialista australiano em segurança aérea Geoffrey Dell comentou: "Nunca vi uma colisão com pássaros impedir a extensão do trem de pouso".
Após o alerta de colisão com pássaros e a declaração de emergência pelos pilotos, eles tentaram pousar na pista vindo da direção oposta, informou um oficial do Ministério dos Transportes.
Essa mudança de plano levantou mais questões para os investigadores, afirmou Marco Chan, professor sênior em operações de aviação da Buckinghamshire New University e ex-piloto.
"A mudança para a direção oposta foi feita de forma relativamente tardia, o que aumentou a carga de trabalho", disse Chan. O cenário, afirmou, ainda é de incógnita.
Joo Jong-wan, vice-ministro dos Transportes, afirmou que o comprimento da pista, de 2.800 metros, não foi um fator contribuinte e que os muros em suas extremidades foram construídos de acordo com os padrões.
"Ambos os extremos da pista possuem zonas de segurança com áreas verdes de amortecimento antes de alcançar o muro externo", disse ele em outra coletiva. "O aeroporto foi projetado conforme as diretrizes de segurança padrão da aviação, mesmo que o muro possa parecer mais próximo do que realmente está".
O comandante atuava desde 2019 e acumulava 6.823 horas de voo, informou o ministério.
O modelo da Boeing envolvido no acidente, o 737-800, é um dos aviões mais utilizados no mundo, com um histórico geral de segurança sólido e desenvolvido bem antes da variante MAX, que esteve envolvida em uma recente crise de segurança da Boeing.
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